Vão nascer 60 novos hotéis este ano
Unidades hoteleiras que vão ser inauguradas em 2023 vão trazer para o mercado mais 6.300 quartos, fazendo subir a capacidade hoteleira em 5,5% face a 2022. A maior fatia dos novos hotéis, 32%, fica em Lisboa e a menor no Algarve e Madeira com dois ou três em cada região. Inflação e aumentos dos custos trazem “nuvens no horizonte”, prevê o setor.
Apesar do abrandamento nos investimentos por causa do surto inflacionário e do aumento generalizado dos custos, este ano, vão abrir em Portugal 60 novos hotéis que vão trazer ao mercado 6.300 quartos.
Fora deste número estão os hotéis que vão reabrir em 2023 depois de terem feito obras de re- novação.
Desta forma, a capacidade hoteleira vai crescer 5,5% face a 2022, aponta ao Negócios a con- sultora especializada em turismo, Neoturis, que, tendo como base os custos da construção, estima que o setor vai “investir mais de mil milhões de euros”, revelando “um grau de confiança no futuro”.
E os dados revelam isso mesmo. Até 2025, as previsões apontam para que sejam inaugurados 190 novos hotéis dos quais 60 já este ano –com um acréscimo de 19 mil quartos, referem ainda os dados da Neoturis divulgados ao Negócios. Também a Cushman & Wakefield já apontou que há cerca de 115 unidades hoteleiras que estão em fase de projeto ou em construção, para serem inauguradas até 2025, totalizando um acréscimo de dez mil quartos.
Mas, para já, o universo de hotéis vai passar de 1.725 em funcionamento em 2022 para, pelo menos, 1.785, somando as 60 inaugurações. Serão mais 179 face aos 1.606 que estavam em funcionamento em 2019.
Algarve e Madeira com menos inaugurações
Entre a nova oferta salienta a consultora de turismo, a maior fatia, 32% (que representa dois mil quartos), vai abrir em Lisboa, logo seguida de Porto e Gaia, com mais 26% das novas unidades(1.600 quartos). No oposto, as regiões do Algarve e da Madeira vão contar com um número reduzido de aberturas, não ultrapassando as duas ou três unidades em cada.
É de salientar ainda que “a categoria com maior número de novos quartos será a de três estrelas”, em que vai caber “39% da nova oferta”, refere Luís Pedro Costa da Neoturis. O que “está diretamente ligado ao crescimento de hotéis ‘budget’, de marcas internacionais”, que, aliás, vão “representar 57% da nova oferta”.
Para o consultor, a aposta das marcas estrangeiras em Portugal “demonstra bem a dinâmica de investimento de fundos internacionais” que “ investem e estabelecem contratos de gestão com estas marcas”.
Receitas de 20 mil milhões de euros
Todos os dados apontam que 2022 foi um ano de vários recordes no turismo, sendo que o setor deverá fechar o ano com receitas que se vão cifrar “entre os 19,5 mil milhões e os 20 mil milhões de euros”, o maior valor de sempre, prevê o ministro da Economia, António Costa Silva, que assume que este ano “será muito difícil repetir”.
A guerra, a subida da inflação e o aumento generalizado dos custos, sobretudo da energia, estão a fazer soar os alertas entre os representantes do setor, que apontam “incerteza” e “nuvens cinzentas” no horizonte. “É evidente que em 2023 o turismo pode ser afetado pelas razões que conhecemos, em particular se existir recessão de países europeus como a Alemanha”, disse o ministro da Economia durante a conferência de imprensa conjunta do Governo que fez o balanço das políticas de 2022.
Para evitar uma quebra acentuada nas receitas, o Governo diz que tem vindo a trabalhar com o Turismo de Portugal para reforçar a promoção em mercados como os EUA e o Canadá de forma a “compensar perdas que podemos ter dos mercados europeus”, refere o ministro.
“É um mercado estratégico que tem sido alvo de atenção especial no âmbito da promoção turística de Portugal enquanto destino turístico”, reforça ao Negócios o presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, lembrando o “desempenho notável” dos norte-americanos que, em 2022, registaram “crescimentos homólogos superiores a 400% e cerca de 24% acima dos resultados de 2019”.
Ainda assim, a vice-presidente executiva da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP), Cristina Siza Vieira, prevê “nuvens no horizonte”, sendo “a maior delas a instabilidade geopolítica”.
Cenário que pode resultar numa quebra ou “estagnação” que os hoteleiros terão de combater com mais promoções este ano, o “que poderá afetar o preço médio entre 5 e 10% face a 2022”, refere a Neoturis.
Preços continuam a subir e investimentos “com cautela” A subida da inflação e o aumento generalizado dos custos, que se acentuaram depois do início da guerra na Ucrânia, já levaram, em 2022, a um aumento dos preços das estadias, que deverá continuar este ano.
Segundo os últimos dados do INE, referentes a novembro, os produtos alimentares e bebidas não alcoólicas aumentaram 20,6%, o gás 72,8%, a eletricidade 28% e os combustíveis 29,5%. Esta realidade é vista pela hotelaria “com enorme inquietação”, porque “não vê parar de aumentar os custos de operação, mês após mês”, alerta ao Negócios a secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), Ana Jacinto, que prevê que este seja um cenário para continuar este ano.
O mesmo retrato é antecipado pela AHP, que, sem arriscar o aumento específico dos custos de operação, avisa, desde já, que “os preços do alojamento irão acompanhar essa subida, sem sacrifício das margens”, diz Cristina Siza Vieira.
Também o presidente da Confederação do Turismo, Francisco Calheiros, diz que esta “será uma consequência inevitável face aos aumento generalizado de preços em praticamente todas as atividades económicas”, avisando ainda que, perante este contexto, as empresas “serão cautelosas nos seus investimentos”, pelo menos, “enquanto persistirem algumas nuvens no horizonte”.
Ana Petronilho