Ir ao espaço? Caçar tornados? Portugal fora do radar do turismo extremo
O turismo extremo é um nicho que parece estar em ascensão, mas, para já, Portugal está fora do radar deste mercado. Sem turistas portugueses com capacidade financeira para suportar os preços de centenas de milhares de euros para atividades extremas, e sem empresas que promovam ou que criem atividades de adrenalina, não existe em Portugal um mercado ligado a este nicho.
Como destino de viagens radicais, “somos um país pacífico, não temos montanhas altas e sobra-nos, portanto, o mar”, diz ao ECO a consultora especializada em turismo, Neoturis. Neste segmento, não sendo uma atividade vendida como turística, existe o caso do surf no Canhão da Nazaré, “que, não tendo expressão em termos de procura turística direta, tem contribuído em muito para a imagem de Portugal e o desenvolvimento turístico da zona e do surf”, ressalva a Neoturis.
A médio prazo, como destino deste tipo de atividades, “podemos, a médio prazo, pensar em mergulhos a grande profundidade”, mas para que isso aconteça “terão de ser identificados locais com fauna/flora ou formações rochosas interessantes”, sublinha ainda a consultora.
E apesar de ser cada vez mais alargado o leque de opções destas atividades, mesmo a nível internacional “o mercado de viagens radicais, com adrenalina continua a ser um nicho” considera ainda a Neoturis apontando várias razões. Desde logo, “várias dessas viagens, ao fundo do mar ou ao espaço, por exemplo, têm um custo muito elevado, só ao alcance de muito poucos” e, além disso, nos casos de escalada de alta montanha ou surfar ondas gigantes, quem faz estas atividades “tem de ter conhecimentos técnicos muito avançados” o que faz com que “o potencial de procura seja restrito”. Há ainda viagens para países em guerra, que “atraem um número reduzido de procura por razões óbvias”, remata a consultora.
Dentro deste segmento do turismo, em Portugal o único caso conhecido é o do empresário Mário Ferreira que, no verão do ano passado, foi o primeiro turista espacial nacional ao fazer uma viagem suborbital de dez minutos a bordo de uma nave da empresa aeroespacial norte-americana Blue Origin, dirigida pelo magnata Jeff Bezos. Segundo a imprensa, o voo ao espaço, através desta empresa, pode custar entre 200 mil e 300 mil dólares (195 mil a 293 mil euros). (Mário Ferreira é acionista do ECO.)
A expedição da OceanGate ao fundo do Atlântico para visitar os destroços do Titanic – que terminou com a implosão do submersível e na morte dos cinco tripulantes – é apenas um dos exemplos de um tipo de turismo que, segundo a Reuters, “está em ascensão” para quem pode pagar, neste caso, 250 mil dólares por pessoa e para quem procura adrenalina.
Mas há outros exemplos de turismo extremo.
Viagem ao espaço
As viagens ao espaço arrancaram em força no verão de 2021, em plena pandemia, numa demonstração da competição que existe entre os três empresários milionários Jeff Bezos, Elon Musk e Richard Branson que acreditam que no futuro haverá turismo orbital em massa. Depois de alguns testes, a Virgin Galactic, de Branson, disse, na semana passada, que vai lançar o primeiro voo espacial comercial, chamado Galactic 01, entre 27 e 30 de junho deste ano, sendo que os bilhetes têm valores que flutuam entre 250 mil dólares e 400 mil dólares (entre 230 mil euros e cerca de 370 mil euros, à atual taxa de câmbio).
Mas já antes, desde junho de 2021, que a Blue Origin, de Bezos, está a operar voos de dez minutos ao espaço, atingindo uma altitude de 106 quilómetros, sendo que o primeiro bilhete para o primeiro voo foi vendido 28 milhões de dólares (cerca de 26 milhões de euros). Os passageiros sentem a microgravidade e flutuam alguns minutos, antes de regressar à terra.
Já a empresa de Musk, a SpaceX, quer levar os passageiros à Lua e a Marte, mas ainda não tem data para o voo comercial. Inicialmente previsto para o verão de 2023, os voos foram adiados depois de, em abril, um foguetão de teste ter explodido minutos depois de ter descolado. Os planos de Musk passam por voos de três dias a circular a Lua a 200 quilómetros de distância da superfície lunar. O primeiro bilhete foi comprado por um milionário japonês, Yusaku Maezawa, que tem uma fortuna avaliada em 1,7 mil milhões de dólares.
Voos de balão à volta do mundo
Antes de apostar no espaço, Branson investiu em viagens de balão de ar quente, com planos para dar à volta ao mundo. Em 1991, tornou-se a primeira pessoa a atravessar o Pacífico e, nas últimas décadas, já levou a outros empresários milionários a fixar outros recordes de distância, altura e duração dos voos de balão de ar quente.
Além disso, ainda em atividades extremas no ar, há quem faça voos de 45 minutos de heli-esqui, voos de helicóptero em que os esquiadores são transportados para encostas remotas a cerca de quatro mil metros de altitude, tendo sido lançados nas montanhas de neve dos Himalaias, entre a Índia e o Paquistão.
Caça tornados
Nos Estados Unidos, na região entre o Texas e o Nebrasca tem atraído cada vez mais pessoas que procuram viver experiências extremas ligadas à natureza, com a região a ser conhecida como a meca para os caça tornados.
Os aventureiros que querem assistir de perto a tornados e furacões, organizam-se em circuitos com guias e são acompanhados por equipamentos de meteorologia de alta tecnologia para captar fotografias e sentir a fúria da natureza.
Expedições ao Polo Sul
No campo das expedições, há quem pague cerca de 100 mil dólares (90 mil euros) para caminhar até ao polo Sul, através da White Desert Antarctica, uma empresa fundada em 2005 por Patrick Woodhead, um antigo explorador polar. Esta operadora organiza viagens que passam por caminhadas e estadias no Whichaway Camp, o único alojamento na região mais a sul do planeta.
Há ainda quem opte por escalar o Monte Evereste, onde existe o pico mais alto do mundo com 8.848 metros de altitude, tendo como guia o antigo alpinista americano Garrett Madison. Estas expedições duram semanas e têm o custo de 93.500 dólares por pessoa (cerca de 86 mil euros à atual taxa de câmbio).